quarta-feira, 28 de março de 2012

Eleições do DCE

A USP está em efervescência política. As eleições do Diretório Central dos Estudantes dividem opiniões, ou, como está na boca do povo: Polarizam os debates.
De um lado, a surpreendente Reação, com seu apartidarismo e “direitismo”.
Do outro, a situacionista e declaradamente esquerdista Não Vou me Adaptar, com militância do PSOL e PSTU por trás. Há ainda outras chapas de esquerda, mas que se viram reféns de tal polarização do debate, embora tentassem, a todo custo, fazer algum barulho.

O clima era diferente no ar uspiano esta manhã. Pelos lados da FFLCH, todos sabiam o que estava sucedendo, todos estavam, direta ou indiretamente, envolvidos com as eleições. Praticamente não se falava em outra coisa, e, em todo lugar, via-se cartazes com propaganda das chapas, cartas-programas, palavras de ordem e etc. Não havia surpresa, afinal, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humana sempre fora uma das mais militantes da Universidade. Mas algo permanecia diferente. Um clima de ansiedade e tensão no ar.

Decidi sair do epicentro das Humanidades e percorrer outras áreas. Passei logo cedo pela frente da Faculdade de Economia e Administração e percebia-se ainda um marasmo, embora já ensaiando para o espetáculo das votações, com intensas panfletagens e discussões políticas que decorreriam mais tarde. No dia anterior eu soubera que a votação havia sido agitada por lá. Soubera também que a receptividade da Reação era melhor por ali do que na FFLCH, aonda Não Vou me Adaptar despontava como favorita. Observei rapidamente, com algum interesse, é verdade... Porém não totalmente satisfeito, afinal, a FEA ainda era um reduto bastante político. Queria ir ainda mais longe para captar a dimensão de tal evento. Fui, então, à Escola Politécnica. O recanto das engenharias.

Chegando à Poli pude perceber uma movimentação de chapas. Entra e sai do Grêmio Estudantil, conversas com diretores dos Centros Acadêmicos, gente que ia buscar urna, gente sendo recrutado para ser mesário, gente dando início às articulações... As eleições do DCE haviam chegado, também, à Poli.
Sentei-me num banco e pus-me a observar. Com o passar do tempo a urna e as cédulas chegaram. Os mesários tomaram postos, e uma a uma, as chapas foram chegando. Posicionaram-se em frente ao Prédio do Biênio e começaram a famosa ‘boca-de-urna’. É verdade que alguns politécnicos pouco ligaram para os militantes e passaram reto diante do cenário eleitoral. Mas é também bem verdade que muitos pararam para ouvir os programas e propostas, tiraram suas dúvidas, envolveram-se em breves debates e até, pasmem, entraram na fila da votação. Fila esta que chegava a ser comprida em alguns momentos, dada a quantidade de gente disposta a fazer valer sua vontade no DCE.
Não sei avaliar se meu estereótipo de apolíticos sobre os futuros engenheiros estava errado, ou, se as eleições ao DCE de 2012 estavam, de fato, atingindo uma dimensão surpreendente, atingindo até mesmo os cursos menos ligados ao Movimento Estudantil.

Passado algum tempo de observação decidi também votar. Conhecia de cor o discurso de todas as chapas, portanto, fui direto à urna e rapidamente registrei meu Voto em Trânsito (afinal, eu não era aluno da Poli). Saí de lá direto pro Circular, um tanto quanto surpreso pelo espetáculo político presenciado naquela manhã fria e nublada.

Ora essa! Ia quase me esquecendo do meu voto.
Bem, como sabem, meu voto é secreto...

sexta-feira, 9 de março de 2012

Confirmação de Matrícula

Era a hora H. O tal do ou vai ou racha. A matrícula já era lembrança, assim como a semana de recepção aos calouros. Era uma segunda-feira quente. Aquela história de ter passado no vestibular estava ficando séria. As aulas estavam para começar, e uma missão havia de ser cumprida:

A confirmação de matrícula.

Caso o êxito não fosse alcançado, tudo teria sido em vão. Sem a confirmação da matrícula, seria fatal: FUVEST em novembro para assombrar mais um natal.

Desci então do ônibus, no ponto da FFLCH. À minha frente estendia-se uma larga escadaria, ladeada por altas e imponentes árvores. A escada me conduziria ao “prédio do meio”, que era o prédio da Ciências Sociais e da Filosofia. Recebia este nome, justamente, por estar localizado entre os prédios da História/Geografia e o da Letras... A tríade constituía a polêmica e famosa Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.

Subi, então, degrau após degrau, sentindo uma ansiedade crescente. Pessoas de todos os tipos passavam apressadas ao meu lado enquanto eu andava vacilante tentando me encontrar, perdido naquele universo chamado USP.

Após vasculhar os corredores e escadarias, topei com um minúsculo corredor, quase escondido atrás de um pilar, aonde, no alto, bem no alto, se liam as inscrições: “Seção do Aluno”. Voi là. Era aquele o meu destino. Percebi, ao longe, uma fila. Ao me aproximar, reparei num guichê do tipo ‘retire sua senha’, e um painel eletrônico, daqueles mesmos que chamam as senhas. Retirei, enfim. Peguei o número 877. Olhei no painel: o último número ali constado era o 373. Estranhei, porém me aquietei.

Menos de um minuto depois, para minha surpresa, chegou um homem vestindo uma camisa do Palmeiras e carregando uma escadinha. Posicionou a escadinha bem embaixo do painel, subiu e começou a repará-lo. As senhas, então, regrediram ao 000. Ele puxou uns cabos daqui, alguns cabos dali. Praguejou sem sucesso. A máquina continuava transitando entre o 373 e o 000. Até que, por fim, deu um tapa na máquina, já bem irritado, e desceu da escada. Disse em voz alta:
- Façam uma fila, pois o painel está quebrado! – ainda bem que ele nos avisou.
Todos os alunos obedeceram e formaram a fila. Eu notara que a garota à minha frente havia pego um papel em cima do balcão. Segui seus passos e apanhei também a folha. Olhei e ela dizia “Retificação de Matrícula”.

Devo ter feito uma cara de espanto muito evidente, pois o veterano atrás de mim na fila me cutucou dizendo:
- Você é calouro, não é? – balancei a cabeça afirmativamente – Então, a fila dos calouros é aquela outra ali.
Olhei adiante e, de fato, havia outra fila. Muito menor, por sinal. Agradeci e me dirigi a ela. Fiquei cerca de cinco minutos esperando, até que chegou a minha vez.


- Tá com a carteirinha aí? Deixa-me vê-la? - entreguei-a a carteirinha. Ela, simplesmente, pegou uma lista e a entregou para que eu assinasse – Assina aqui, por favor.
Em questões de segundos eu tinha liquidado a fatura. Devolvi a lista e fiquei olhando-a, esperando algo a mais.
- Está liberado, próximo!

Saí estupefato. Não acreditava que havia levantado cedo e me deslocado de Jundiaí a São Paulo com tamanha ansiedade para, então, assinar uma lista e estar liberado. Desci as escadas pensando em como os calouros são, de fato, burros. Ao mesmo tempo, a atendente da fila dos veteranos gritava irritada:

- NÚMERO OITO-SETE-SETE! POR FAVOR, O NÚMERO OITO-SETE-SETE.