quinta-feira, 26 de abril de 2012

BUSP


Julia Chequer/R7


A certas coisas nós só damos valor antes de termos. É o caso do Busp, ou também, Bilhete USP.
O Busp é uma novidade na Universidade de São Paulo, sobretudo na Cidade Universitária.
Até o ano passado, a USP oferecia – e arcava com todos os custos - duas linhas de ônibus que circulavam pelo campus. Eram os famosos Circulares.
Em 2012 a reitoria veio com a novidade. Os mitológicos Circulares (qualquer dia eu escrevo uma crônica inteiramente dedicada a eles) saem de cena gradualmente, e novos ônibus, desta vez administrados pela SPTrans serão os responsáveis de transportar os alunos pela Cidade Universitária e levá-los até a estação Butantã do metrô. É uma melhoria no serviço, mas que, porém, teve de vir acompanhada de um novo ator do dia-a-dia universitário: o Busp.

Ele é o simpático cartão que garante a gratuidade das viagens de ônibus dos estudantes. É simples, basta entrar no veículo e apresentá-lo ao cobrador que tudo fica certo. O aluno viaja tranquilamente.
Mas ora, imaginem o que não é produzir milhares e milhares de cartões em questões de dias. Tarefa fácil, não é. Portanto, os bixos (sempre eles) foram os últimos a recebê-los.

Eles deveriam, portanto, continuar utilizando o Circular antigo, que não necessita de cartão e que ainda estava a rodar pelo campus.
Aparentemente todos sabiam disso, menos eu.

Eis que na primeira semana de aula, saindo da lojinha do CEPEUSP, ainda sem o Busp e ainda sem saber direito como funcionava o transporte público uspiano, esperei pacientemente no ponto de ônibus, até que avistei o automóvel laranja da SPTrans. Fiz sinal para pegá-lo, ele parou, e eu entrei.
Entrei e fiquei imóvel, por ali, perto da porta mesmo. O motorista saiu andando, mas sempre me encarando pelo retrovisor, com um olhar curioso. Até que, na próxima parada de ponto, ele se vira para trás, dirigindo-se a mim e diz:
 - O sr. já pagou?
 - Não, não... Sou aluno – respondi contente, sem suspeitar de nada.
 - Tem o bilhete USP?
 - Ahn, não, não... Ainda não recebi.
Percebi um olhar impaciente.
 - Vai ali falar com o cobrador.

Virei o pescoço, e lá estava o cobrador a me encarar também. Dirigi-me a ele, então.
 - Hm, eu ainda não tenho o Bilhete. Não posso mostrar a carteirinha?
 - Não sr... Tem que pagar.
 - Mas como assim? Enquanto não recebo o bilhete, ou eu pago ou eu ando a pé?
 - Não sr... Os circulares antigos ainda estão passando. Sinto muito, aqui tem que pagar.
Olhei pela janela atrás do cobrador e reconheci a rua. Num rápido golpe de perspicácia, falei:
 - Desculpe então, eu não sabia. Pode deixar que eu desço no próximo ponto mesmo – fingindo certo desapontamento.

Percebi o olhar irritado do motorista surgir novamente no retrovisor. Ele parou abruptamente e abriu a porta. Eu desci e olhei em volta. Esperei o ônibus partir para soltar um pequeno sorriso... Aquele era, justamente, o ponto da FFLCH. Eu estava em casa...