terça-feira, 10 de julho de 2012

Conversas de Banheiro


Entre as várias idas e vindas ao banheiro, um fato sempre me prendeu a atenção: as conversas anônimas de boxes.

É extremamente comum ver as inscrições que, para alguns, recebem o nome de ‘pichações’, enquanto, para outros (especialmente no universo acadêmico), recebem o nome de ‘intervenções urbanas’.

Independentemente da nomenclatura, há de se ressaltar o caráter cômico que algumas inscrições.
Há alguns dias, por exemplo, estava no ofício diário sagrado quando comecei a ler as paredes. Não poderia faltar, obviamente, críticas ao reitor:

Rodas: ditador pós-moderno”, dizia. Alguém acrescentou alguns detalhes, com outra caneta, transformando a mensagem emRodas: ½ ditador, ½ pós-moderno”. Confesso que achei curiosa a intervenção.

Noutro canto, foi possível ler: “FHC JÁ CAGOU AQUI”. Senti-me honrado por compartilhar a ilustre presença, embora saiba que se tratava de uma inverdade. Aceitei o fato com uma licença poética... Mas nem todos reagiram assim, porque alguém respondeu, com uma caneta vermelha “cala a boca seu burro”.

Mais à esquerda, porém na mesma linha, lia-se um imponenteo amor é importante. porra”. E confesso que essa mensagem eu já tinha visto em outros lugares, na rua inclusiva. Instantaneamente criou-se um sentimento de empatia entre mim e ela. Reconheci ali algo familiar, além de uma mensagem de profundidade surpreendente.

No canto inferior, observei o último diálogo perfeitamente legível. Alguém, revoltado, escreveu: Seu lixo é a comida dos outros”. Saindo da frase havia uma seta que desembocava, justamente, na direção do lixinho ao lado do vaso sanitário.

Alguém, indignado com o protesto, resolveu protestar também, escrevendo em letras garrafais: “A SOLUÇÃO PARA FOME MUNDIAL É O LIXO, VAMOS TODOS COMER COCÔ!”.

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